O banco suíço financiava empresários e fazendeiros. Cobrava juros abaixo dos praticados pelo mercado e concedia longos prazos para a quitação do empréstimo. Parecia um ótimo negócio, mas era um golpe, apenas mais um na vida do economista Antonio Carlos da Costa Prado, hoje procurado pela polícia. Com vítimas no Brasil inteiro, desta vez houve quem perdesse até R$ 1,3 milhão. O First International Zurich Bank, do qual Prado se dizia representante no Brasil, não existia. Era uma ficção criada pelo acusado para envolver suas vítimas - suspeita-se que mais de 20 caíram na armadilha.Homem de hábitos refinados, Prado é conhecido por se vestir com ternos italianos e ostentar todos os símbolos do executivo bem-sucedido: de relógios caros a escritórios luxuosos nos Jardins, na zona sul de São Paulo. Em sua longa ficha policial - ele foi absolvido da maioria das acusações - constam como vítimas o Banco Central, o Banco do Brasil e mais de uma dezena de empresários. “Ele está foragido, mas vamos prendê-lo”, disse o delegado Marcos Gomes de Moura, que apura o golpe no 78º Distrito Policial (Jardins).Em 1995, em uma das últimas vezes em que foi preso, o economista foi apanhado quando embarcava para Frankfurt, na Alemanha. “O senhor está preso por ter aplicado um golpe de US$ 35 milhões”, disse-lhe, então, o delegado. Prado olhou de cima a baixo o policial e fez-lhe um pedido: “Doutor, fala mais baixo. Tá todo mundo olhando”. Prado ficou pouco tempo preso e foi absolvido.Ele, que se dizia amigo de políticos do PTB e do PMDB, começou a armar, segundo a polícia, sua mais recente arapuca em 2005. A sede do First International Zurich Bank era em um escritório na Alameda Lorena que ocupava um andar. A mulher do economista, Regina Aparecida Grazzeano Prado, foi indiciada no dia 16 pela polícia. “Por sua conta passou parte do dinheiro das vítimas”, disse o delegado.Prado teve a idéia de recrutar gerentes de banco por meio de anúncios em jornais. Dizia que um banco internacional pretendia contratar profissionais experientes e com uma “carteira de relacionamentos (clientes)” que atuassem fora da cidade de São Paulo. O banco de investimentos priorizava financiamentos para agronegócios e empresários de cidades de médio porte e capitais do Sudeste, Nordeste e Sul.FazendeiroUm dos gerentes que responderam ao anúncio foi Marco Ferreira da Silva, que trabalhava para um banco de investimentos na Bahia. Silva procurou o economista em São Paulo, que se entusiasmou pela carteira de relacionamentos do gerente. Prometeu contratá-lo. Silva acreditou e telefonou para seus antigos clientes, entre eles um fazendeiro de Barreiras (BA), de 58 anos. A vítima precisava de empréstimo para financiar o plantio e colheita.Seu antigo gerente ofereceu R$ 13 milhões de crédito com taxa de 7% ao ano. A carência para o pagamento dos juros seria de 12 meses e o fazendeiro teria 90 meses para o pagamento principal da dívida. Com essas vantagens, a vítima veio a São Paulo para fechar a transação. Prado mandou buscá-lo de avião e hospedou-se nos Jardins. O encontro com o cliente ocorreu na sede do banco.Prado, segundo contou a vítima à polícia, pediu-lhe documentos, como cópia da declaração de Imposto de Renda, e pediu que assinasse um contrato, cuja validade dependeria da aprovação do cadastro do cliente.Dias depois, quando o fazendeiro já havia retornado à Bahia, ele recebeu a informação de que “seu cadastro havia sido aprovado pelo banco”. O dinheiro estaria na conta do fazendeiro em dias, mas antes o cliente teria de cumprir uma última formalidade: depositar em uma conta de um banco brasileiro o equivalente a 10% do valor do empréstimo.O dinheiro serviria como garantia, espécie de seguro cobrado pela matriz do banco suíço para o envio do dinheiro a outro país. Um dia após o depósito, o dinheiro entraria na conta do fazendeiro. Mas quando ele foi verificar o saldo não havia nada. O fazendeiro contou à polícia que telefonou para Prado, que lhe disse que o dinheiro devia entrar em questão de horas, que o problema era o fuso horário. Depois, disse que o problema havia sido no câmbio, que o dinheiro estava retido pelo Banco Central. E assim foi de desculpa em desculpa até que o fazendeiro percebeu que havia sido vítima de um golpe.No fim de 2006, o 78º DP recebeu a representação do advogado Antônio de Paulo Azevedo Marques, que defende o fazendeiro, requisitando a abertura de inquérito contra Prado. O Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo, fez o mesmo pedido. A polícia foi ao escritório do golpista, mas já não havia mais ninguém lá. A Justiça decretou a prisão de Prado."
COMENTÁRIO:
Embora se trate de um golpe antigo ( foi muito comum nas crises financeiras pré e pós planos de estabilização econômica) ainda existem vítimas que se deixam seduzir por juros baixos, prazos longos e poucas exigências cadastrais e de garantias. Da arapuca instalada em pequenos escritórios modestos às luxuosas dependências, folhetos ilustrados e informações de filial de bancos estrangeiros inexistentes, o estelionatário cresce na aparência, no conhecimento técnico e no modo de vida elegante, de forma a criar um palco e um artista que convençam a platéia dos carentes de suporte financeiro. Na mesma proporção, cresce o volume das transações e o tamanho do golpe.