30 setembro 2006

UM GOLPE DE EMPRÉSTIMO INTERNACIONAL


Em busca do dinheiro do Noroeste A Justiça suíça está em vias de retomar a maior parte do desfalque de US$ 190 milhões do Banco Noroeste. Começaram a ser interrogados na última quinta-feira pelo juiz Daniel Devaud, em Genebra, os cidadãos nascidos em Hong Kong e radicados na Nigéria Naresh e Shamdas Asnani, que receberam US$ 120 milhões do total desviado de contas da agência Cayman do Banco Noroeste pelo diretor internacional Nelson Sakaguchi, também preso na Suíça. O dinheiro já havia sido localizado por advogados, mas só agora foram presos os destinatários. Ambos foram detidos em Miami, por uma ordem de prisão expedida pela Justiça suíça, e extraditados para julgamento no país europeu. A prisão dos Asnani derruba uma das últimas pontas do surpreendente esquema de lavagem de dinheiro descoberto pelas investigações feitas por advogados e detetives contratadas pelas famílias Cochrane e Simonsen, ex-controladoras do Noroeste. O esquema envolve centenas de contas bancárias em nome de empresas e pessoas em locais como Estados Unidos, Nigéria, Suíça, Reino Unido, Hong Kong, Cingapura, Emirados Árabes e paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas. Três grupos radicados na Nigéria receberam as maiores remessas de dinheiro: Emmanuel Odeinigwe, que está solto, refugiado na Nigéria; Christian Anajemba, assassinado em circunstâncias nebulosas; e os Asnani, presos na Suíça. Do total de US$ 242 milhões, já foram bloqueados bens e contas bancárias no total de US$ 50 milhões. Por conta da demora dos trâmites burocráticos e processos de venda de bens, o total recuperado até agora pelas famílias Cochrane e Simonsen é de US$ 8 milhões. O escândalo estourou em 1998, quando o Noroeste foi vendido ao Santander. Durante a auditoria para a compra, o então presidente do Santander no Brasil, Manuel Horta Osório, perguntou sobre o rendimento das aplicações feitas pela agência de Cayman. Na época, Sakaguchi estava de férias e ninguém soube responder. Quando voltou, a auditoria começou a pressioná-lo e descobriu a fraude. Dos US$ 242 milhões, cerca de US$ 30 milhões seriam juros fictícios de aplicações. Uma parte estimada em US$ 10 milhões foi sacada em espécie. Sakaguchi transferiu US$ 190 milhões que a agência do Noroeste em Cayman tinha nos Estados Unidos em bancos como Chase Manhattan (atual JP Morgan Chase), Bank of New York e Manufacturers Hanover. Segundo o advogado dos Cochrane e Simonsen, Domingos Fernando Refinetti, o dinheiro em Cayman provinha de captações externas de recursos que seriam repassados a clientes (empréstimos). O volume era alto, segundo Refinetti, porque havia fraca demanda por crédito naquele período. Além de processos na Suíça, Estados Unidos e Inglaterra, o caso está sob investigação da Polícia Federal brasileira, num inquérito sob sigilo. Sakaguchi estava em liberdade até o ano passado, quando foi preso em Nova York, atraído para um suposto acordo com representantes dos ex-controladores. Os advogados receberam um fax de Kim Uke, nigeriano radicado em Londres que teria apresentado Sakaguchi ao grupo para o qual foi repassado o dinheiro. Pressionado pelas ordens de bloqueio de bens e contas, Uke sugeriu o encontro nos EUA.Enquanto isso, os advogados já tinham conseguido uma ordem de prisão temporária na Suíça e o pedido de extradição aos Estados Unidos. Assim Sakaguchi foi preso ao desembarcar no aeroporto de Nova York e está há nove meses numa cadeia suíça. " Eu aconselhei meu cliente a não ir, mas ele insistiu " , lamenta o criminalista Alfredo das Neves Filho, que defende o ex-diretor no inquérito da Polícia Federal e está com os honorários atrasados. Sakaguchi está sendo processado na Suíça, mas não foi condenado. Desde que foi preso, já deu oito depoimentos ao juiz Devaud, trocou de advogados e hoje está com um defensor pago pelo Estado suíço, por falta de condições de custear sua defesa. A primeira versão apresentada pelo ex-diretor é de que o dinheiro foi investido a mando do banco na Nigéria. Na época, Sakaguchi apresentou documentos como um certificado do Banco Central da Nigéria, que peritos afirmam ter sido falsificado e preenchido pelo seu próprio punho. Seu advogado diz que pode impugnar esta avaliação.Posteriormente, Sakaguchi mudou a versão disse que o dinheiro teria sido transferido cumprindo ordens dos controladores, para evitar o pagamento de Imposto de Renda na venda do Noroeste. O banco foi vendido em 1998 por US$ 500 milhões, mas os Cochrane e Simonsen receberam US$ 258 milhões por conta da fraude. "O argumento dele não faz sentido, porque o desvio de dinheiro começou em 1995, quando nem se pensava em vender o banco", diz o advogado Refinetti.O grupo de ex-acionistas, liderado por Leo Wallace Cochrane Júnior, ex-presidente, está sofrendo processo da Receita Federal, que entende que deve receber totalidade do imposto relativo à venda do banco por US$ 500 milhões. A intenção dos controladores, segundo Refinetti, é pagar os impostos à medida em que forem recuperando o dinheiro. Em um de seus últimos depoimentos, Sakaguchi disse que os ex-controladores já teriam recuperado todos os US$ 190 milhões, despachados em dois jatinhos que saíram da Nigéria. A desconfiança em torno de participação dos controladores no desfalque é um dos principais motivos da cruzada dos Cochrane em busca do dinheiro. Segundo seus advogados, a família está gastando milhões para que fique comprovado que não teve participação. Um dos coordenadores da gigantesca investigação é William Richey, advogado americano que foi chefe da Divisão de Investigação de Corrupção Pública na Flórida, especialista em busca a quadrilhas de lavagem de dinheiro.É curioso o fato de o autor do desfalque de US$ 190 milhões parecer não ter ficado com praticamente nada. Um dos poucos bens em nome de Sakaguchi é a casa onde mora a família, que sequer tem recursos para ir visitá-lo na Suíça. Os advogados dos ex-controladores levantam a hipótese do ex-diretor ter sido enganado pelos supostos sócios no desfalque, mas duvidam que ele tenha acreditado numa proposta de investimento na Nigéria. Refinetti, que acompanhou os depoimentos dos Asnani na última quinta-feira, diz que o dinheiro saiu dos EUA e foi inicialmente depositado na Suíça - e não na Nigéria. A história contada pelos Asnani também parece fantasiosa. Ambos (pai e filho) afirmam que não sabiam da origem fraudulenta do dinheiro, recebido em contas no Lloyds Bank (US$ 70 milhões) e no Citibank (US$ 40 milhões) em Genebra. O montante foi transferido pela Stanton Investments, cuja movimentação era controlada por Sakaguchi. Naresh Asnani afirma que acreditava que a quantia pertencia ao nigeriano Emmanuel Odeiniguwe, e que teria sido obtida como comissão na exportação de produtos petrolíferos. Para obter uma comissão neste valor, entretanto, o total dos produtos exportados teria que ser superior a US$ 10 bilhões.
Fontes: Valor Econômico 11.02.2003 p. C1 Data da inclusão: 12/02/2003 - 07:42:58
Comentário: Na época vários empresários brasileiros haviam sido contatados por um consultor financeiro nigeriano que se dizia representante do governo daquele país (consul ou ministro com documentação falsa e de multinacionais e bancos atuantes na África ,que faziam e tomavam empréstimos vultosos. Alguns desses empresários aceitaram pagar a "taxa" de cadastro para obter dinheiro a 20 anos e juros de 2,5% ao ano; outros aplicaram recursos "não contabilzados" em depósitos a prazo de 180 dias, com taxa de juros de 30% ao ano,além da variação do dólar, sempre em alta naquela época. Os bancos internacionais não pagavam mais que 7%, O golpe - era tudo uma grande falcatrua engendrada por estelionatários internacionais - ja fora muito comentadp nos meios financeiros do Brasil. A ganância dos envolvidos , criminosos e vítimas ultrapassou qualquer medida de bom senso. Comenta-se que "ministros" da Nigèria.pela internet e por telefone continuam fazendo propostas mirabolantes de operações financerias estruturadas altamente lucrativas, Até eu recebi um desses e-mails. Respondi automáticamente: Vade retro Satanaz!

29 setembro 2006



O CONTO DO EMPRÉSTIMO


Porfírio trabalhara 1 ano no Bradesco como caixa. Cursos internos de treinamento lhe deram noções básicas sobre o funcionamento de instituições financeiras. Fora dispensado por justa causa depois que a auditoria descobrira seus avanços sobre contas de clientes pouco movimentadas.
Depois de 6 meses sem conseguir outro emprego resolveu montar o seu próprio “banco”. Publicou anúncios em jornais de grande circulação no Rio de Janeiro prometendo empréstimos com juros ínfimos e prazo longo, sem burocracia, sem fiador, sem garantias normalmente exigidas. Bastava ajustar as condições pelo telefone constante do anúncio, depositar numa conta bancária 1% do valor do crédito solicitado a título de taxa de cadastro, preencher e enviar para um endereço em Copacabana, uma simples promissória, acompanhada de uma carta contendo seus dados de identificação e requerendo a quantia desejada, indicação do número de parcelas em que seria dividido o pagamento e – importante – a conta bancária onde seria liberado o valor do empréstimo dentro dos próximos 15 dias... Centenas de crédulos e necessitados logo atenderam o anúncio, Um mês depois, a conta da “tia” Ermelinda, favelada da Rocinha e 70 anos de bondades espalhadas entre os vizinhos, recebia depósitos que totalizavam mais de R$ 100.000,00. Com o cartão de débito da bondosa velhinha – que ignorava a serventia daquele pedaço de plástico e o entregara ao amigo Porfírio que dissera ser colecionador daqueles objetos - transferiu os recursos para contas de 3 “laranjas” que simplesmente o ajudaram a receber uma graninha que o pai, fazendeiro em Mato Grosso lhe havia doado. Tendo em vista que ele não tinha conta em banco, os amigos honestos e prestimosos fizeram-lhe o favor e lhe entregaram as quantias sacadas mediante uma recompensa, até rejeitada por um deles, de 50 reais. Em seguida, Porfírio informou a todos que iria viajar para Fortaleza para visitar uma irmã doente e evaporou-se como o odor da cachaça consumida pelos amigos o churrasco de despedida. As vítimas foram se queixar à polícia - , que abriu um inquérito mas não localizou o estelionatário - depois de aguardar um mês pelo depósito, telefonar para um número de telefone que não atendia, e visitar o escritório do “banco” que não existia no endereço informado. Por acaso, na loja do prédio comercial em Copacabana, ficava uma agência do Bradesco, cujo gerente gentil e solícito havia explicado que o banco nada tinha a haver com aquele “empréstimo” e que o nervoso “cliente” fora vítima de um conto do vigário.
Dois meses depois, anúncios nos classificados do Diário Popular em São Paulo prometiam empréstimos para a aquisição de casa própria, com facilidades nunca antes fornecidas pelos bancos da praça.


COMENTÁRIO:

O estelionatário arma arapucas atraentes para capturar pássaros famintos por alpiste abundante e sedentos pela água de fonte abençoada. Carência financeira e credulidade levam as vítimas a não refletir quando a vantagem oferecida é muito além da normal. É a principal característica de toda propaganda enganosa, não apenas utilizada pelo “Kid Vigarista”, mas também por fabricantes e comerciantes inescrupulosos, os quais, por sua vez, estão sujeitos às penalidades previstas pelo Código do Consumidor. Olho vivo!

28 setembro 2006











CONTO DO BILHETE PREMIADO

Perto de uma agência da Caixa Econômica Federal, Zé da Couves, humildemente trajado, aborda o Paulão, bem vestido no seu terno de vendedor de planos de saúde, ar confiante de quem sabe aproveitar as oportunidades que a vida lhe oferece. Na carteira, 560 reais da comissão que acabara de receber na agência da Caixa.
Zé das Couves se apresenta como recém chegado de Piuí, cidadezinha do interior de Minas Gerais, onde comprara frações bilhete de loteria que acabara de ser premiado com 5.000 reais.
Conferira com o bilheteiro que estava logo ali na esquina e muito alegre fora até a Caixa receber o prêmio. No entanto, como não estava com a carteira de identidade, perdida alguns dias antes, não lhe pagaram o valor do prêmio. A certidão de nascimento que portava consigo não fora aceita. Precisava viajar urgente para Bauru, onde sua mãe estava num hospital, à beira da morte. O dinheiro para a passagem de ônibus era insuficiente.
- E daí? – indagou Paulão, meio exasperado pela fala arrastada e preguiçosa do capiau mineiro.
- Daí, que o senhor poderia, se tiver a identidade, me fazer o favor de receber o prêmio ali na caixa.
- E quanto eu levo nisso? – Paulão já antevia a oportunidade de faturar algum.
- Cem reais, tá bom?
- Duzentos, vou perder tempo na fila – retrucou o vendedor esperto.
- Aceito, se o senhor me deixar a carteira como garantia de que recebe o dinheiro e volta.
- Tem certeza de que esse bilhete é mesmo premiado? – Paulão quer se assegurar.
- O bilheteiro tá logo ali. Vamos conferir.
Paulão olha a lista do prêmios da Federal do dia anterior. O número do bilhete do capiau figurava como o prêmio maior. Na verdade as frações que tinha em mãos valiam 10.000 reais. Nem isso o simplório sabia. Entrega-lhe a carteira com os seus 560 reais, mas antes, retira a identidade e o cartão de crédito da Caixa. Iria depositar a maior parte dos 10.000. Não convinha andar por aí com muito dinheiro no bolso.
Na agência, fica sabendo que o bilhete é falso. Volta depressa e já não encontra o caipira e o bilheteiro. Escafederam-se. Caíra no conto do vigário. Uma dorzinha que começa no estômago logo sobe à cabeça.

COMENTÁRIO

A vítima agiu com torpeza querendo aproveitar-se de uma pessoa com aparência humilde e poucas luzes. Caiu num conto muito comum, antigo e amplamente divulgado. A ganância impediu a reflexão. Os vigaristas armaram a cena e desempenharam bem os respectivos papéis. Se você encontrar essa dupla contando a mesma história, com os penduricalhos que a criatividade do estelionatário acrescenta, não deixe de ir à delegacia mais próxima para denunciá-los. Eles estarão por lá, esperando uma vítima menos cuidadosa e mais gananciosa que você.

27 setembro 2006

DECISÃO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
www.stf.gov.br

"HC 84735 Min. EROS GRAUJulgamento: 17/05/2005 Órgão Julgador: Primeira TurmaPublicação: DJ 03-06-2005

EMENTA: PENSÃO RECEBIDA APÓS O FALECIMENTO DA PENSIONISTA. RECURSOS SOB A ADMINISTRAÇÃO MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR. ESTELIONATO. SUJEITO PASSIVO. Estelionato praticado por pessoa que, mediante assinatura falsa, se fez passar por pensionista falecida para continuar recebendo os proventos de pensão militar depositados no Banco do Brasil. Recursos sob a administração militar. Competência da Justiça Militar para processar e julgar a respectiva ação penal (artigo 9º, III, "a" do Código Penal Militar). A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é pacífica no sentido de que o sujeito passivo, no crime de estelionato, tanto pode ser a pessoa enganada quanto a prejudicada, ainda que uma seja ente público. Ordem denegada."


COMENTÁRIO

A morte de um pensionista do INSS muitas vezes deixa a família sem recursos para manter-se. O desamparo numa época onde falta emprego leva algumas pessoas ao crime. A fraude contra o INPS, como a que é citada na decisão acima é um dos caminhos encontrados para obter-se a vantagem ilegal à custa da previdêncial social. Mas isso não justifica a atitude de violação da lei. Atualmente o governo distribui fartamente o Bolsa Família e outros tipos de benefícios aos carentes. Muitos aderem ao trabalho informal e conseguem obter o seu sustento. Nem sempre a falsificação de documentos para receber proventos de aposentadoria é feita por parentes. Existem quadrilhas especializadas nesse tipo de golpe. O recadastramento dos pensionistas que está sendo efetivado por intermédio da Caixa Econômica Federal deverá diminuir bastante a incidência das fraudes, mas sempre haverá pilantras tentando levar vantagem à custa do erário público. Quando caem nas malhas da Justiça, esta não tem sido leniente, conforme demonstramos no exemplo ora comentado.

26 setembro 2006


O CRIME DE ESTELIONATO


O que chamamos popularmente de vigarice o Código Penal Brasileiro caracateriza como Estelionato no artigo 171. Aliás, 171 também é um apelido que se dáaos vigaristas. Sôbre este crime fazemos :

ALGUMAS COSIDERAÇÕES JURÍDICAS:


Tipificação: O artigo 171 do Código Penal brasileiro assim tipifica o crime:

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.


Bem jurídico protegido: O patrimônio.

Sujeito ativo: Caracteriza-se como sujeito ativo qualquer pessoa que induz ou mantém a vítima em erro, empregando meio fraudulento, a fim de obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita em prejuízo alheio. O terceiro beneficiado pela ação delituosa, se destinatário doloso do proveito do ilícito, será considerado co-autor. Aqui estão incluídos os “laranjas” e demais comparsas conscientes de que estão colaborando para prejudicar terceiros.


Sujeito passivo: Sujeito passivo (vítima) é a pessoa que se deixa enganar e que sofre a perda patrimonial. Em certas situações podem co- existir dois ou mais sujeitos passivos: o que é logrado e o que sofre o dano em seu patrimônio.


Elementos objetivos do tipo penal: Para que o estelionato se configure são necessários:


. Fraude O código fala em artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento. Artifício é o engodo empregado por intermédio de encenação, como, no conto da recompensa. Ardil é o engodo praticado por intermédio de documentação falsa, publicidade enganosa, dinheiro forjado, como no conto da guitarra. O tipo penal compreende qualquer outro meio fraudulento, no qual se enquadram a mentira e a omissão do dever de esclarecer.A fraude bilateral, ou seja, a torpeza da vítima,l não impede a caracterização do estelionato. O tipo penal não exige a boa-fé da vítima, razão pela qual o SupremoTribunal Federal tem entendido caracterizado o estelionato mesmo na hipótese de também a vítima estar de má-fé na ao cair no golpe.
. Erro: A vítima é levada a ter uma falsa percepção da realidade. O agente pode: induzir a vítima em erro. Ou mantê-la em erro se nele já havia incorrido espontaneamente.
. Duplo resultado: O tipo de crime, estelionato exige: (a) obtenção de vantagem ilícita, para o próprio agente ou para terceiro, e (b) o prejuízo alheio.
elemento subjetivo do tipo:O estelionato só é punível a título de dolo específico, que é o intento de obter vantagem ilícita. Não se admite a figura culposa.


CONSUMAÇÃO: É crime material, consumando-se no momento e local em que o agente obtém a vantagem ilícita em prejuízo alheio.


TENTATIVA: Tentativa existe se foram idôneos os meios empregados e, iniciada a execução do estelionato, o crime não se consumou por circunstâncias alheias à vontade do estelionatário Se ele não consegue obter a vantagem ilícita ou não ocorre o prejuízo à vítima, estaremos diante do estelionato em sua figura tentada. O início da execução se dá com o engodo da vítima e não com o uso que o vigarista faz desse engano, que é tido como um ato preparatório. Se a vítima entrega um cheque em pagamento ao vigarista mas este é preso antes de ter apresentado o título ao banco para receber o respectivo valor, haverá tentativa.


REPARAÇÃO DO DANO: Somente na hipótese do subtipo do §2.º, VI (fraude no pagamento por meio de cheque), é pacífica a jurisprudência no sentido de que a reparação do dano antes do início da ação penal descaracteriza o estelionato (Súmulas 554 e 246 STF). Nas outras hipóteses, predomina o entendimento de que a reparação do dano somente atenua a pena.



Antonio Carlos Rocha da Silva














22 setembro 2006

Não deixe de ver o outro blog do escritor:http://menestrelcia.blogspot.com/
UM GOLPE EM BANCO.

Levou o diretor do Banco Safira para visitar a fábrica de jeans.
Máquinas de costura clicando a mil. Duas moças pararam o serviço e sorriram para o “Comendador”, apelido que ele se dera no banco, para abafar o humilhante “Zé”, que não combinava com o seu porte sofisticado: a loira de olhos azuis e a moreninha de olhos verdes. Gatas de capa de revista masculina, desnudou-as em pensamento o galã empertigado no seu terno de visitar clientes.. Recebeu adeusinho das duas, quando se encaminhava para a sala de estoque de matéria prima. Rolos de fazenda do chão ao teto. Mais adiante, os produtos acabados iam sendo embalados e carregados num caminhão. Dois outros na fila.
- Notei que não examinam as peças antes de serem empacotadas – observou o gerente bancário. - Não usa o controle de qualidade?
- Pra que? – retrucou Geraldo Aguiar, o dono da fábrica, jovem, simpático de fala mansa, porem assertiva: - Nossa empresa adota o sistema de qualidade total. Erro zero, meu amigo. Não se tolera que a mercadoria venha com defeito da produção
Encantado com a modernidade do empresário refletida no lucrativo balanço semestral da empresa recém nascida mas com a pujança da juventude, e com o bilhete com o telefone da costureira de olhos verdes, que lhe fora entregue por Geraldo ao se despedir, o “Comendador” aprovou o crédito de um milhão de reais com garantia de duplicatas. Liberados os recursos,
constatou satisfeito no “lap top” o ingresso dos seus 10% de comissão na conta do Top Bank em Cayman. Constituída há dois anos, a “reserva monetária internacional”, como denominara o seu fundo para aposentadoria, já alcançara o expressivo montante de 350 mil euros. Se o Delúbio chamava “caixa 2” de “recursos não contabilizados” ele bem que podia se envaidecer de ter encontrado uma feliz designação e justificativa para a sua “caixinha”.
No mês seguinte, aceitou sem reservas, a desculpa do Geraldo para as primeiras duplicatas não liquidadas pelos compradores: prazo alongado para atender dificuldades financeiras conjunturais de seus clientes. Continuava confiando na Tecelagem Utopia Ltda., mesmo depois da costureira ter recusado seu convite para a “happy hour”. Frivolidade de mocinha de classe inferior, conclui ele. Não afetou sua alto-estima. Outras, mais inteligentes e tão bonitas quanto, não haviam desprezado o “Comendador”.
Três dias depois de vencida a primeira parcela do empréstimo, ligou várias vezes para a empresa. Ninguém atendeu. Determinou ao gerente da agência mais próxima que fosse visitar a fábrica.
- Fechada. Galpão vazio. Limpo. Caminhões foram vistos no domingo anterior carregando estoques e maquinário – informou Honório, objetivo e experiente funcionário. – É golpe!
- Fui traído! – indignou-se o diretor, mal disfarçando o rubor na face.
Vingativo, informou ao Departamento Jurídico o número da conta do Geraldo Aguiar – identidade falsa do estelionatário, como se apurou depois – no Ásia Banque em Nassau, para onde, com a ajuda da Corretora Diamante, ligada ao Safira, o cliente transferira 200 mil dólares há 15 dias. A operação de “blue chip swap” – compra e venda de títulos do Tesouro Americano - bastante utilizada por renomadas empresas para alimentar suas “reservas monetárias internacionais” fora bem sucedida.
Um mês depois, acionados os meios particulares de investigação que o banco possuía, descobriu-se que a conta do “empresário” não tinha saldo. Alguns milhões de dólares voavam pelo mundo, repousando, de quando em quando, em ilhas paradisíacas. Dinheiro lavado com competência profissional. Mas os extratos mostraram uma transferência de recursos para a conta do “Comendador” no Top Bank., no dia da liberação do crédito para Tecelagem Utopia.
Banco não considera erro perdoável a participação de funcionário em estelionato. Mas preza a imagem. O diretor foi demitido sem alarde.


COMENTARIO: Nessa estória vemos algumas características típicas dos estelionatários de colarinho branco: no ”jovem empresário” - a simpatia pessoal, o poder de sedução e o conhecimento de técnicas administrativas empresariais que levam banqueiros a aprovar créditos, além da demonstração de patrimônio buscando resguardo em contas no exterior. Do lado do banqueiro: a facilitação da lavagem de dinheiro que inclusive bancos estrangeiros afamados praticam para ganhar polpudas comissões, especialmente a percentagem do diretor envolvido. Falta de compromisso com a ética e a responsabilidade social. Ocultação das perdas para preservar a imagem de confiabilidade do banco, indispensável para manter os depósitos de seus clientes. Atenção:a ganância das partes facilita golpes.





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21 setembro 2006


ESTE É UM DOS CONTOS MAIS COMUNS! MAS AINDA TEM GENTE QUE CAI.

O Conto da Recompensa


Na saída do banco, José – 70 anos, cabelos brancos, olhos baços, porém ainda lépido pelos muitos anos trabalhando como carteiro – percebe que o jovem loiro que ia à sua frente, terno e gravata, jeito de executivo, abaixa-se e pega uma carteira caída na calçada. Volta-se em direção ao idoso e pergunta-lhe:
- É sua? – Abre um pouco a carteira e deixa entrever algumas notas.
- Não! A minha está aqui no bolso do casaco. Apalpa o volume no recheado de bilhetes de 50, economias que retirara da poupança para comprar uma bicicleta para o neto que faz aniversário no dia seguinte.
Aproxima-se deles um outro idoso, moreno, cara de preocupado, manquitolando acentuadamente e indaga aos dois:
- Vocês por acaso não encontram uma carteira preta? Ia pagar o aluguel e deixei cair por aqui. O rosto tisnado pela ansiedade é simpático e o olhar firme.
- Acabamos de encontrar – exibe a carteira – é esta?
- O manco pega o objeto, olha atentamente, conta as várias notas, verifica um cartão de crédito e o documento de identidade. Abre um sorriso amplo e agradece o jovem e o aposentado.
- Obrigado! Ainda existem pessoas honestas. Vocês merecem uma recompensa. Sou dono da banca de jornais que fica a duas quadras, atravessando a avenida. É fatigante para eu ir até lá. Mas leve aqui o meu cartão e peça à Jandira, minha mulher, que lhe dê 20 reais – Escreve algo no cartão e o entrega ao jovem executivo, que diz não precisar de recompensa alguma. O jornaleiro insiste.
- Então está bem. Eu vou mas volto para agradecer a sua gentileza. Fique aqui com a minha carteira para garantia do meu retorno.
- Não precisa deixar nada. Eu aguardo.
- Confiança é confiança! Fique aí com a minha carteira. Eu volto logo – Cindo minutos depois o executivo retorna exibindo uma nota de 20 reais. Abraça o manquitola e se despede agradecido.
O aposentado se extasia ante tanta demonstração de confiança, honestidade e gratidão. O jornaleiro insiste em que ele vá buscar seu prêmio. Estende mão para pedir a carteira do idoso, o penhor da confiança. Meio aturdido ante o acontecimento inusitado, José entrega a carteira, pega o cartão onde lê a ordem de dar 20 reais ao portador e caminha as duas quadras até a banca de jornais. Constata que ela não existe naquele local. Talvez tenha se enganado... atravessa a avenida, olha na outra esquina e...nada. Volta até a porta do banco onde deixara o manco simpático com a sua carteira. Evaporou-se.
José segue para casa aborrecido e decepcionado com ele mesmo. Otário! Otário! Sussurra-lhe uma voz interior. Não dá queixa à polícia. Não quer que outros saibam da sua ingenuidade.

Comentários: A dupla de vigaristas aproveitou-se de naturais sentimentos humanos da vítima: um ganho extra sem esforço, solidariedade, credulidade e a tendência de imitar gestos – a entrega da carteira em penhor de confiança – de pessoas que acabam de praticar ações meritórias. Essa imitação é um impulso irracional. Cuidado com os atos irrefletidos! As aparências enganam. Vigaristas são antes de tudo, artistas.

20 setembro 2006

Nosso Objetivo:



O personalismo, traço primordial do caráter do brasileiro em geral, que lhe possibilita a adaptação a situações adversas, em vez da rebeldia organizada - , tornou-se um dos propulsores do “jeitinho” e da esperteza malandra, tão a gosto e reverência do nosso povo. Carente de educação e treinamento para o trabalho produtivo a grande massa dos ignorados e ignorantes, deixa-se levar por políticos populistas que apenas lhes abrem as portas da esperança mas nada fazem de efetivo para permitir-lhes a ultrapassagem de seus umbrais. A malandragem, que nada mais é do que a sagacidade aplicada ao aproveitamento de oportunidades surgidas para um ganho qualquer, acaba, em muitos casos, se transformando em vigarice, ou seja, a utilização de ardis e criação de oportunidades para lesar o próximo obtendo vantagens pecuniárias à custa da ingenuidade, da falta de cultura, da credulidade, da confiança nas aparências, ou da torpeza refratária às leis, traços comuns às suas vítimas. As três raças que mesclaram seu sangue na formação do caráter brasileiro marcaram-no com suas crenças nos poderes extrasensoriais: os deuses da natureza conjurados pelo pajé índigena; com os negros africanos viream os do mundo dos espiritos invocados e incorporados pelo pai-de-santo; os aventureiros portuguêses trouxeram a crença nos milagres de Cristo, de Nossa Senhora e dos santos católicos. Daí resulta a popularidade da sorte como forma de obter ganhos financeiros: na oportunidade imperdível de um negócio fácil onde se leva vantagem, na lesão do patrimõnio alheio sem risco de punição, no dízimo pentecostal que atrai saúde fortuna, nos sorteio do bicho, das inúmeras loterias e mais recentemente, dos bingos e até dasmáquinas caça-níqueis espalhadas pelos botecos.O que enlaça criminosos e vítimas, na maioria dos casos , é o instinto da distinção social mediante a posse de bens que os seus rendimentos atuais não permitem adquirir e as dificuldades de progresso numa comunidade na qual faltam oportunidades de trabalho, de educação e de desenvolvimento das potencialidades humanas. Nem sempre os golpistas são movidos pelo ganho monetário: uma grande parte deles se compraz com o orgasmo de ter conseguido enganar a vítima. São portadores de distúrbios mentais. Outros, os de colarinho branco, não conseguem conter o impulso da ganância: praticam estelionato contra empresas das quais são donos ou nas quais trabalham, apropriam-se de poupanças investidas em seus negócios, de recursos públicos, e até dos votos de incautos para usufruírem o Poder.

Os Meios para Atingir os Objetivos

Revelando tipos de golpes, casos concretos, estórias imaginárias, e comentando as deficiências que levaram as vítimas a serem lesadas, procuraremos alertar nossos leitores para que se safem. Este é o nosso objetivo, limitado, sabemos, aos que conseguem acessar a internet. Caberá a esses privilegiados difundir seus conhecimentos aos demais. Serão os nossos multiplicadores de alertas.

Antonio Carlos Rocha da Silva