29 setembro 2006



O CONTO DO EMPRÉSTIMO


Porfírio trabalhara 1 ano no Bradesco como caixa. Cursos internos de treinamento lhe deram noções básicas sobre o funcionamento de instituições financeiras. Fora dispensado por justa causa depois que a auditoria descobrira seus avanços sobre contas de clientes pouco movimentadas.
Depois de 6 meses sem conseguir outro emprego resolveu montar o seu próprio “banco”. Publicou anúncios em jornais de grande circulação no Rio de Janeiro prometendo empréstimos com juros ínfimos e prazo longo, sem burocracia, sem fiador, sem garantias normalmente exigidas. Bastava ajustar as condições pelo telefone constante do anúncio, depositar numa conta bancária 1% do valor do crédito solicitado a título de taxa de cadastro, preencher e enviar para um endereço em Copacabana, uma simples promissória, acompanhada de uma carta contendo seus dados de identificação e requerendo a quantia desejada, indicação do número de parcelas em que seria dividido o pagamento e – importante – a conta bancária onde seria liberado o valor do empréstimo dentro dos próximos 15 dias... Centenas de crédulos e necessitados logo atenderam o anúncio, Um mês depois, a conta da “tia” Ermelinda, favelada da Rocinha e 70 anos de bondades espalhadas entre os vizinhos, recebia depósitos que totalizavam mais de R$ 100.000,00. Com o cartão de débito da bondosa velhinha – que ignorava a serventia daquele pedaço de plástico e o entregara ao amigo Porfírio que dissera ser colecionador daqueles objetos - transferiu os recursos para contas de 3 “laranjas” que simplesmente o ajudaram a receber uma graninha que o pai, fazendeiro em Mato Grosso lhe havia doado. Tendo em vista que ele não tinha conta em banco, os amigos honestos e prestimosos fizeram-lhe o favor e lhe entregaram as quantias sacadas mediante uma recompensa, até rejeitada por um deles, de 50 reais. Em seguida, Porfírio informou a todos que iria viajar para Fortaleza para visitar uma irmã doente e evaporou-se como o odor da cachaça consumida pelos amigos o churrasco de despedida. As vítimas foram se queixar à polícia - , que abriu um inquérito mas não localizou o estelionatário - depois de aguardar um mês pelo depósito, telefonar para um número de telefone que não atendia, e visitar o escritório do “banco” que não existia no endereço informado. Por acaso, na loja do prédio comercial em Copacabana, ficava uma agência do Bradesco, cujo gerente gentil e solícito havia explicado que o banco nada tinha a haver com aquele “empréstimo” e que o nervoso “cliente” fora vítima de um conto do vigário.
Dois meses depois, anúncios nos classificados do Diário Popular em São Paulo prometiam empréstimos para a aquisição de casa própria, com facilidades nunca antes fornecidas pelos bancos da praça.


COMENTÁRIO:

O estelionatário arma arapucas atraentes para capturar pássaros famintos por alpiste abundante e sedentos pela água de fonte abençoada. Carência financeira e credulidade levam as vítimas a não refletir quando a vantagem oferecida é muito além da normal. É a principal característica de toda propaganda enganosa, não apenas utilizada pelo “Kid Vigarista”, mas também por fabricantes e comerciantes inescrupulosos, os quais, por sua vez, estão sujeitos às penalidades previstas pelo Código do Consumidor. Olho vivo!

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