28 setembro 2006











CONTO DO BILHETE PREMIADO

Perto de uma agência da Caixa Econômica Federal, Zé da Couves, humildemente trajado, aborda o Paulão, bem vestido no seu terno de vendedor de planos de saúde, ar confiante de quem sabe aproveitar as oportunidades que a vida lhe oferece. Na carteira, 560 reais da comissão que acabara de receber na agência da Caixa.
Zé das Couves se apresenta como recém chegado de Piuí, cidadezinha do interior de Minas Gerais, onde comprara frações bilhete de loteria que acabara de ser premiado com 5.000 reais.
Conferira com o bilheteiro que estava logo ali na esquina e muito alegre fora até a Caixa receber o prêmio. No entanto, como não estava com a carteira de identidade, perdida alguns dias antes, não lhe pagaram o valor do prêmio. A certidão de nascimento que portava consigo não fora aceita. Precisava viajar urgente para Bauru, onde sua mãe estava num hospital, à beira da morte. O dinheiro para a passagem de ônibus era insuficiente.
- E daí? – indagou Paulão, meio exasperado pela fala arrastada e preguiçosa do capiau mineiro.
- Daí, que o senhor poderia, se tiver a identidade, me fazer o favor de receber o prêmio ali na caixa.
- E quanto eu levo nisso? – Paulão já antevia a oportunidade de faturar algum.
- Cem reais, tá bom?
- Duzentos, vou perder tempo na fila – retrucou o vendedor esperto.
- Aceito, se o senhor me deixar a carteira como garantia de que recebe o dinheiro e volta.
- Tem certeza de que esse bilhete é mesmo premiado? – Paulão quer se assegurar.
- O bilheteiro tá logo ali. Vamos conferir.
Paulão olha a lista do prêmios da Federal do dia anterior. O número do bilhete do capiau figurava como o prêmio maior. Na verdade as frações que tinha em mãos valiam 10.000 reais. Nem isso o simplório sabia. Entrega-lhe a carteira com os seus 560 reais, mas antes, retira a identidade e o cartão de crédito da Caixa. Iria depositar a maior parte dos 10.000. Não convinha andar por aí com muito dinheiro no bolso.
Na agência, fica sabendo que o bilhete é falso. Volta depressa e já não encontra o caipira e o bilheteiro. Escafederam-se. Caíra no conto do vigário. Uma dorzinha que começa no estômago logo sobe à cabeça.

COMENTÁRIO

A vítima agiu com torpeza querendo aproveitar-se de uma pessoa com aparência humilde e poucas luzes. Caiu num conto muito comum, antigo e amplamente divulgado. A ganância impediu a reflexão. Os vigaristas armaram a cena e desempenharam bem os respectivos papéis. Se você encontrar essa dupla contando a mesma história, com os penduricalhos que a criatividade do estelionatário acrescenta, não deixe de ir à delegacia mais próxima para denunciá-los. Eles estarão por lá, esperando uma vítima menos cuidadosa e mais gananciosa que você.

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