O personalismo, traço primordial do caráter do brasileiro em geral, que lhe possibilita a adaptação a situações adversas, em vez da rebeldia organizada - , tornou-se um dos propulsores do “jeitinho” e da esperteza malandra, tão a gosto e reverência do nosso povo. Carente de educação e treinamento para o trabalho produtivo a grande massa dos ignorados e ignorantes, deixa-se levar por políticos populistas que apenas lhes abrem as portas da esperança mas nada fazem de efetivo para permitir-lhes a ultrapassagem de seus umbrais. A malandragem, que nada mais é do que a sagacidade aplicada ao aproveitamento de oportunidades surgidas para um ganho qualquer, acaba, em muitos casos, se transformando em vigarice, ou seja, a utilização de ardis e criação de oportunidades para lesar o próximo obtendo vantagens pecuniárias à custa da ingenuidade, da falta de cultura, da credulidade, da confiança nas aparências, ou da torpeza refratária às leis, traços comuns às suas vítimas. As três raças que mesclaram seu sangue na formação do caráter brasileiro marcaram-no com suas crenças nos poderes extra-sensoriais: os deuses da natureza eram conjurados pelo pajé índigena; com os negros africanos vieram os do mundo dos espiritos invocados e incorporados pelo pai-de-santo; os aventureiros portugueses trouxeram a crença nos milagres de Cristo, de Nossa Senhora e dos santos católicos. Daí resulta a popularidade da sorte como forma de obter ganhos financeiros: na oportunidade imperdível de um negócio fácil que aparece de repente e no qual se leva vantagem, na lesão do patrimõnio alheio sem risco de punição, no dízimo pentecostal que atrai saúde e fortuna, nos sorteios do bicho, das inúmeras loterias, mais recentemente, dos bingos e até das máquinas caça-níqueis espalhadas pelos botecos.O que enlaça criminosos e vítimas, na maioria dos casos , é o instinto da distinção social mediante a posse de bens que os seus rendimentos atuais não permitem adquirir e a percepção das dificuldades de progresso numa comunidade na qual faltam oportunidades de trabalho, de educação e de desenvolvimento das potencialidades humanas. Nem sempre os golpistas são movidos pelo ganho monetário: uma grande parte deles se compraz com o orgasmo de ter conseguido enganar a vítima. São portadores de distúrbios mentais. Outros, os de colarinho branco, não conseguem conter o impulso da ganância: praticam golpes contra empresas das quais são donos ou nas quais trabalham, apropriam-se de poupanças investidas em seus negócios, de recursos públicos mediante fraude em concorrências e suborno de funcionários ou políticos corruptos, que por sua vez enganam os incautos e crédulos eleitores para usufruírem o Poder. Nem sempre as vítimas são movidas pelo "vantagismo" pessoal; há nelas muito de crendice e de ingenuidade.
Os Meios para Atingir os Objetivos
Revelando tipos de golpes, casos concretos, estórias imaginárias, comentando as deficiências que levaram as vítimas a serem lesadas, dando orientações para empresas que pretendam sistematizar sistemas de prevenção de riscos operacionais, procuraremos alertar nossos leitores para que se safem. Este é o nosso objetivo, limitado, sabemos, aos que conseguem acessar a internet. Caberá a esses privilegiados difundir seus conhecimentos aos demais. Serão os nossos multiplicadores de alertas.
Antonio Carlos Rocha da Silva
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